-SIMPLICIDADE-

                           O tempo curou as feridas de Andrei. Ele passou a estar sempre junto de Gregor, embora um nada falasse ao outro. E por onde eles passavam deixavam a mistura de seus olores era uma mistura viciante e ao mesmo tempo temível. Todos desejavam, todos tinham medo.

                              Toda tarde iam ao lago, onde ambos admiravam o horizonte. E sorriam timidamente ao longe. Quem passava por eles tinha a sensação de estar no berço da morte. E quem os via tão perto do lago acreditavam que a água os iria devorar.

                          Eles ficavam horas e horas a beira do lago. Sem falar uma palavra. Apenas sorriam timidamente para o horizonte.

                         Dentro de si, Gregor entendia os olhos tristes de Andrei. Por um momento um olhou dentro dos olhos do outro, seus perfumes se entrelaçaram num frenesi lascivo. E os grandes olhos negros de Andrei sorriram maliciosamente dentro de Gregor. Os dois estavam a um palmo de distancia, o perfume fazia do ar doce e sensual, eles sentiam febre. Os lábios então se juntaram, num beijo doce e pecaminoso. A febre corria seus corpos e suas mãos caminhavam nervosas por seus caminhos tímidos e proibidos. Havia um desejo simples e puro de pecado.

                              Para eles era um sentimento simples, um amor sem erro, mas para os outros era um pecado, uma posseção demoníaca. Foram pegos pelo conselho e enviados ao psicólogo Albert Fraim, um velho gordo que cheirava a bosta de vaca e tinha um bigode peludo e monocelha de saçurana.

                       Albert logo ao sentir o cheiro de Andrei ficou intrigado. Ele tentou conversar com o menino, mas as palavras fugiam de sua menti, ele estava tremendo por conta do perfume. Seu coração acelerava a cada palavra que ele tentava dizer, parecia estar com febre.

                            Andrei apenas olhava para aquelas saçuranas na testa e debaixo do nariz do velho gordo. O psicólogo foi tomado pelo perfume. Desejou num devaneio tocar aquela pele braça e macia do jovem. Pediu a ele que tirasse a camisa. Ele fervia criminosamente pelo cheiro do menino. E o menino não reagia, apenas admirava aquelas saçuranas bailarem no rosto do velho. O gordo se aproximou do menino, segurou sua cabeça com uma das mãos e com a outra tentou tocar seu intimo. O jovem cessou o movimento do velho com um simples toque em sua mão. Olhou em seus olhos velhos e enrugados e beijou aquela boca rasgada e fedida. O velho como que acordando de um transe hipnótico, recuou para traz apavorado com os olhos do menino. Ele deu por encerrada a seção e pediu a ele que se retirasse para Gregor entrar na sala.  Enquanto o jovem saía da sala passou por Gregor e deu-lhe um beijo tenro, que fez o velho gordo cair de costas.

                              Gregor entrou na sala. Mudou todo clima febril do perfume de Andrei para um clima fúnebre de certeza de morte. O velho gordo mal iniciou seu trabalho e se perdeu no olhar repreensivo de Gregor. E pela primeira vez se ouviu a voz de Gregor, uma voz rouca e fria:

_ Meu senhor, pare de olhar para mim. Eu não estou nu, não me olhe assim. Seu maldito desgraçado. Cuidado que eu te mato... Vc não devia ter beijado Andrei. Sim, eu si que você o beijou, eu senti na boca dele tudo que aconteceu nesse consultório.  Eu sei que você sempre brinca com os jovens que vem aqui. Sei que você te tara por jovens de pele clara e macia como Andrei. Sim, eu sei muito de vc, sei tanto que sei que você vai morrer hoje. Você nunca mais vai brincar com o corpo dos jovens.

                             O sermão me Gregor cessou, ele sentou-se a poltrona de couro e sorriu para o velho, simplesmente abaixou a cabeça e sorriu. O gordo, como que ordenado, rumou à janela do consultório onde caiu do segundo andar. Seus próprios cães rasgaram todo seu corpo, agiram como demônios ferozes.

                             Os jovens foram encaminhados novamente ao orfanato. Na noite em que voltaram, quatorze jovens cometeram suicídio a beira do lago. Foram os mesmos jovens que antes bateram em Andrei.