sexta-feira, 23 de abril de 2010


- capitulo terceiro-

-caminhando sobre a água-

                  Em meio aos olhares assustados e curiosos dos jovens, ceio um ser que andava sobre as águas. Era um jovem também, vestia pele de cordeiro, usava mascara de lobo, tinha as mãos e os pés pintados de vermelho.
                   Ele veio sobre a água, parou diante dos jovens, se apresentou como Victor Solance. Ele não tinha cheiro. Sentou-se sobre a água para conversar com os jovens. Ele se disse o responsável por eles estarem naquele lugar. Disse que a soma de seus perfumes formavam o cheiro dele. Disse que uma bruxa lhe tomou seu perfume e distribuiu sobre o mundo. E que desde então ele vem procurando seu cheiro de volta.
                    Andrei estava intrigado com o nome da criatura; Victor Solance. Tinha o mesmo sobrenome que ele. Tinha a mesma pele clara que ele. Andrei perguntou de onde ele era ele não respondeu. Apenas continuou falando. Disse que eles tinham de devolver seu perfume. Quando ele se levantou e foi até os jovens, o anjo lhe pegou pelo pescoço.
_ sente-se. Falou o anjo.
                O anjo parou diante dele, tirou papel e caneta e escreveu, depois leu em sua voz rouca:
_ pobre menino dos grandes olhos negros, pobre menino sob uma mascara de lobo, pobre menino, pobre menino... Que grandes olhos tristes você tem, pobre menino... Sua mãe era Maria, sim eu sei, era Aramelia Maria. Tua mãe era filha da bruxa. Tua mãe era filha do demônio. Pobre menino dos grandes olhos negros, seu pai não sabia. E você nasceu à mesma face do teu irmão, e você nasceu morto. A bruxa te levou, e seu pai nem sabia. A bruxa tirou seu perfume e deu ao mundo. A bruxa te criou. Pobre menino dos grandes olhos negros, seu irmão pegou parte de seu perfume, pobre de seu pai, se suicidou à bala na cabeça. E você não conheceu seu pai. E você não conheceu seu irmão. Pobre menino dos grandes olhos negros um dia você achou o coração da bruxa, você tirou ele do pote de vidro que o protegia, você comeu o coração da bruxa. E você chorou menino. Você viu as pessoas que estavam com seu perfume. Pôde os ver sofrer por um momento. Pobre menino você viu seu irmão e chorou. Banhou suas mãos no sangue da bruxa. E agora o demônio quer ver você. E você anda sobre a água. E você pediu ao lago que trouxesse seu perfume de volta. E você morava no roseiral aqui, e o demônio não ousou se aproximar. E você sentiu seu perfume te chamar. E o horizonte te contou a historia, sim você sorriu pra ele, você namorava o horizonte.
               Pobre menino dos grandes olhos negros, você sorriu. Pobre menino você não pode ter o que deseja. Se o tiver o demônio vai encontrar. Pobre menino dos olhos negros, assim você seria escravo dele. Para você ter seu perfume de volta basta beijar aqueles que o possuem agora. Pobre menino, eu jamais vou permitir que você me beije, e se você tentar eu vou matá-lo, pobre menino. Pobre menino abandona a mascara e teu louco desejo. Vem viver conosco, onde o demônio não vai chegar. Mas não tente ter seu perfume de volta ou eu vou te matar.
                 O ano acabou de ler e caiu no sono. O papel onde escreveu pegou fogo. Victor tirou a mascara, olhou nos grandes olhos negros de seu irmão, Andrei. Os dois choraram muito. 



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