O movimento segue
O pensamento corre
Mas o corpo permanece imóvel
Não cresce
E um dia qualquer eu cantarolo pelas ruas e gravo no celular, depois ouço e repasso para o papel ( e digito). Ficou algo assim;
“hoje eu não to legal”
To meio fora do normal
Vendendo produto natural
Hoje eu não to legal
Faço sexo com pessoas do jornal,
Acho que eu não to legal
Eu jogo meu lixo na rua,
Mentira que eu não faço isso
Eu jogo na lata de lixo, é o meu compromisso
E eu não vou mudar
Ahhhhhhh hoje eu não to legal
Quem sabe o sim e o não desse seu baixo astral
Ahhhhhh, você não ta legal
Agora acorda,
Tudo é sexo animal
Esse é o mundo legal
Esse é o vicio oral
Eu vendo meu corpo num comercial de TV
Mas eu quero me vender é pra você
Esse é o mundo animal
Tudo é sexo
O nexo e o anexo
De amar e de gozar
Ahhhhhhh, assim já to legal
Esse é o mundo animal
O sexo, o anexo de amar
E de gozar
Tudo é normal
Quem sabe o sim e o não
Desse louco mundo animal
Hoje eu não to legal
Quem sabe o rumo desse nosso baixo astral
Hoje eu não to legal
Acho que o rumo
É nosso mundo, vicio sexual.
Hoje eu não fico pra traz
Hoje eu colo meu cartaz
Na rua, na lua, no banco da praça
Eu bebo Martine
Eu faço um charme
Eu mudo meu encarte
Por que...
Ahhhhhhh por que eu não to legal...
Preciso falar com você
Sobre o que vai acontecer se eu não te ver
Ahhhhhhhhhhh por que eu não to legal
Tira o mundo animal
Deixa o sexo_ normal.
Eu vendo o sorriso
Eu faço um bico
Eu olho em teu olhos animal
Eu bebo um copo de vinho
Eu sei é o meu destino,
Por quê? Eu não to legal.
Eu vendo meu riso no comercial
Acho que é tudo normal
E acho meu corpo no lixo
Perdi todo meu compromisso
Por que eu não to legal
Quem tem o riso e o sorriso de amar
Quem vê o vezo e o avesso de gozar
Ahhhhhhhhhh, mas eu não to normal
Quem sabe tudo nesse mundo é natural_ normal.
Tudo é ASTRALLLLL
!!!!!!
O caso das pagodeiras e do bebê
Entram no ônibus duas moçoilas, de aparência até agradável. Entram, sentam-se e começam a cantarolar juntas algum pagode. Eu como sempre vendendo meu sorriso barato lhes ofereço um pouco de atenção, recebo aquele sorriso meio sem jeito, mas elas não param de cantar e eu não paro de olhar, logo não paro de sorrir. Na cartada de aparecido eu saco meu Samsung e começo a filmar, elas nada aparecidas olham uma pra outra, tipo ‘ele ta filmando a gente, ai meu deus ele ta filmando a gente, ui, mas ele é gatinho vamos continuar’, e de fato continuam a cantar, começam a se remexer nas poltronas numa dancinha com a barriguinha que possuía um piercing e com as mãozinhas. foi muito engraçado, mais engraçado por que eu estava filmando elas, mas estava de olho em outras pessoas cuja aparência me agradavam muito mais.
Nesse mesmo dia entraram no ônibus duas moças arrumadas pra sair, sentaram-se na frente com a brincadeirinha, nossa você é lindo, num cobra a passagem não. É claro que eu tinha de cobrar, principalmente com um elogio barato desses. E daí papo vai papo vêm, e a pergunta, quantos anos você tem. 19. Novinho esse cobrador, é um bebe ainda. E o cobrador de imediato responde essa pergunta com a resposta de sempre: cuidado que o bebe pode querer colo. E rsrsrsr, e rssrsrs e papo vai papo vem.
Bom, ai alguns casos, mas de fato contei muito pouco sobre eles,há muitas coisas mais que poderiam acrescentar neles, mas não o farei agora. Vamos narrar. Ouço muitas historias, desde a moça que aos 14 anos namorou um cobrador de vinte e poucos a casos de cobradores tarados querendo namorar ‘anjinhos’, tipo, os conhecidos papa anjo. Eu conheço uma raça de pessoas que prefiro chamar de mc’só papo, é aquela raça de gente que fala, fala e não fala nada. Tipo lero-lero é mato. Boysinho metido que canta as moças com uma cantada ridícula e coisas do tipo, só pra aparecer, e que acabam parecendo ainda mais idiotas. Também tem a maior merda, os ‘cerolzinho’, gente que não paga passagem, geralmente algum favelado, sem cultura, que acha que favela é moral. Tudo bem deles não pagarem passagem, mas ficarem fazendo bagunça pra aparecer já é ridículo, e o pior é quando desrespeitam algum passageiro, juro que ainda vou acabar rolando na porrada com um deles por causa de passageiro. No dia anterior a esse, entraram no ônibus três ‘cerolzinho’, tipo, se fosse o concurso de mais feio do Brasil dava empate, são realmente as pessoas mais feias que eu já vi, e olha que eu já vi muita gente feia. Logo depois, uns três pontos vêm um homossexual, da um selinho no namorado e entra no ônibus feliz da vida. Os ‘cerolzinho’ o cumprimentam com tom de zoação. Ele cumprimente e vem para roleta. Eu de praxe pra dei-lhe o meu clássico ‘boa noite_ com um sorriso, vamos ser mais que amigos’. Ele obviamente sorriu tipo ‘ e seu safado, se num acabou de ver meu namorado comigo’. Vai se sentar, e os ‘cerolzinho’ fica La na frente zuando, rola um papo de um pro outro ‘por cinqüenta você comia?’ e a resposta ridícula ‘sim’, daí um zuando o outro, rsrsrss, quem come por cinqüenta da por cem. Morreu o assunto, o que disse sim braveja, num morreu não, os outros insistem, só zuera, só zuera.
O caso da moça que
Trabalha no motel
Certa moça, de boa aparência, ruiva, dos olhos de cor que não pude notar. óculos e sempre bem trajada, mas nunca vulgar, trabalha num motel. Arruma os quartos de maneira divina, certa vez trouxe em seu celular fotos dos arranjos para que pudéssemos ver. Essa moça é muito agradável, mas creio que irritada deve ser insuportável, espero nunca vê-la irritada. Parece ter certa tara por policiais e negros, de fato ela afirmou que não gosta de homens brancos, não fez nenhuma referencia vulgar ao tamanho do membro sexual dos homens negros, imagino que não seja esse o caso, mas isso só ela poderia dizer e eu não vou perguntar (não quero vê-la irritada). Algum tempo, curto tempo, a meu ver, ela namorou um policial, obviamente negro, mas ela enjoou dele logo. Parece não levar jeito pra ser de um homem só. E detesta homens “chiclete”.
Ela da ao senhor meu motorista cartõezinhos de desconto no motel, onde esse motorista leva sua namorada. Ele diz algo do tipo, essa eu amo, essa eu levo no motel, as outras vagabundas eu levo em qualquer motel em beira de rua... Não entendo esse amor que ele tem pela namorada, jamais fiel, mas ele afirma amá-la. Seria algum tipo de frustração? Será que o membro dele é muito pequeno e por isso ele sempre fala de sexo oral??? Isso eu não sei e prefiro não saber.
Essa moça é curiosa eu diria, chegou até a dar-nos camisinhas uma vez. Já nos trouxe uns pedaços de pizza e sempre que pode traz deliciosas balas de chocolate vindas do motel. Gosto dela é uma boa pessoa, ao que sei pode ser muito homofóbica as vezes. Gosta um pouco de falar da vida dos outros e gosta de curtir a vida.
O caso do caldão
Você da um caldo!
Você parece o gianequine,
Você parece o Fabio Assunção...
Você já ouviu tais expressões? Pois eu já, e se você já ouviu devo dizer que você deve conhecer tal caso.
Certa senhora que vive pedindo esmolas na rua, ela me diz, peço sim, eles dão por que querem, eu não to roubando. Ela pede esmolas e em troca oferece elogios lúdicos. Se é para um homem que pede o compara e certo galã de TV, se para uma mulher ela elogia sem poupar esforços e diz que a pessoa parece ser modelo. Certa vez pude ver em sua bolsa cerca de setenta ou oitenta reais, não sei ao certo, mas era uma boa quantia, faça a media, se ela ganha por dia algo em torno de 70reais, ao fim do mês ela ganha dois mil e cem reais... Seriam três meses de trabalho meus para ganhar isso. É acho que esse negócio de cobrador ta por fora, vou acabar tendo de pedir esmola mesmo...
O caso da senhora
Hel..... de tróia
Certa passageira, não preciso citar o nome, faz referencia a Tróia, que era para mim de grande estima e consideração, ajudou a matar um pouco do meu bom humor. Ele estava cursando advocacia, tinha la dos seus trinta e poucos pra quarenta anos, tinha seu marido e filhos que eu saiba só um. Era uma senhora loura que tinha um sorriso bonito como de moça, apesar da idade, e me lembrava de rosto uma certa vizinha. Nos sempre conversávamos e eu adorava conversar com ela. Certo dia, no horário das seis horas, quando o transito está péssimo, eu encontrei essa passageira no meu ônibus, dei-lhe boa noite, como era de costume eu dizer a todos meu passageiros, ela disse algo em tom nervoso, algo tipo, que boa noite que nada, fiquei mais de uma hora no ponto... Mas de fato, que culpa eu tinha? Nenhuma, se eu pudesse levava meus passageiros no colo até em casa. Fiquei muito chateado, não perdoei o estresse dela, poderia perdoar todos meus clientes, mas não os que eu tenho grande estima. Sinto muito, mas é assim que penso uma pessoa de estima não maltrata a outra assim, a menos que não se importe. Depois disso eu nunca mais a vi. Nem quero.
Casos
Ao acaso
O caso da loira vadia
Outro fator importante, se você me pergunta onde é um lugar e eu não sei lhe informar pode ser por que eu não pertenço a essa linha ou por que eu sou novo nela e não conheço os lugares, então me faz mais um favor, não me olha com cara de bosta. Lembro-me certa vez uma loira metida à chique, com uma criança de seus sete oito anos entrou no meu ônibus, acho que era meu primeiro ou segundo dia na linha. Ela queria descer perto da rodoviária, ela me perguntou onde era o ponto mais próximo, eu não soube responder. Ela me olhou com olhar de superior e perguntou com desprezo como o cobrador poderia não saber dar tal informação. Respondi apenas “sou novo nessa linha, senhora. O ônibus estava lotado, um senhor disse onde ela deveria descer. Uns dez pontos antes ela perguntou se era pra descer, eu nem dei bola, ela desceu. Ficou muito longe de onde ia, estava de noite, e ela estava com uma criança. Eu fui mal? Não. Ela foi vulgarmente ridícula, poderia ter ouvido o que o outro passageiro disse e descer no lugar certo, mas era demasiadamente soberba é fútil. Se eu tivesse de namorar uma mulher dessas, preferia arrancar minhas genitais com a própria boca, seria muito mais agradável. Seu nome eu não sei, por que ela não falou, chamo ela apenas de “ a vadia loira”.
Há uma coisa curiosa, que provavelmente você já reparou, quando você desce pela porta da frente , tendo pagado a passagem e o cobrador não roda a roleta. À vulgo chamamos isso de.... Gol!!!! Ficamos com seu dinheiro pra comprar um lanche. De fato se você vai pagar a passagem, não custa nada deixar o dinheiro para o cobrador, mas se de fato você não tem motivo para desembarcar pela porta dianteira, por favor, não o faça. E outra se você é um daqueles que ficam na parte dianteira do ônibus, pelo amor de deus, vá pra parte de traz e me deixa sentar. Será que você não esta vendo que eu estou cansado?
É comum ouvir pessoas, nossos “clientes”, reclamando do ônibus e seus atrasos, mas de fato não há nada que possamos fazer, nem a culpa é nossa. A culpa vem da parte administrativa, seja da empresa que nos emprega ou da empresa que gerencia o transito urbano.geralmente depois de ouvir as reclamações de um cliente eu me despeço dele com a frase simples; vai com deus. Sendo mulher digo, vai com deus meu anjo. E depois dou um sorriso que de certo deixa a pessoa desconcertada. Então se eu te disser vai com deus meu anjo, é provável que eu esteja querendo dizer: vai pra puta que te pariu. Ou: seu filho da puta, vou comer sua mãe na zona!
Sabe o que me deixa muito estressado, seja trabalhando ou não? A falta de consciência das pessoas em relação aos usuários de gratuidade e prioritários. Já vi uma vez uma gestante, aparentemente já com alguns meses de gestação ter de ficar em pé no ônibus sendo que haviam na parte dianteira usuários que não precisavam estar la. É mais ou menos assim: pra você descer do ônibus você vai rodar a roleta, certo? Mas então por que você fica na parte da frente do ônibus, sabendo que na parte de traz tem lugar vazio, e sabendo que você esta ocupando, sem a menor necessidade o lugar de um usuário prioritário? A meu ver, você é um ser humano desprezível, que não se importa com os outros.
Meu sorriso é muito barato, às vezes pode dizer coisas que não são bem compreendias. Pode ser um sorriso simples dizendo “seja meu amigo”, ou um sorriso flerte que diz “ quero que sejas mais que meu amigo”. Pode ser um sorriso bem barato, simples e natural, sem motivo especial. Sorrisos às vezes são muito fáceis de dar. Outras vezes não, de mesma forma que um “bom dia, boa tarde, boa noite” também podem ser fáceis ou difíceis de dar. É fácil quando você esta de bom humor, pode ser fácil quando você não esta de bom humor. Mas não vai ser fácil quando você estiver triste, quando estiver triste esperando ouvir alguém lhe cumprimentar primeiro e essa pessoa simplesmente passa por você com tanta pressa que parece que vai arrancar a roleta do ônibus. Ah, sim, eu não falei, eu sou neste período um cobrador de ônibus, o tal do “agente de bordo, ao seu dispor”. Aquele carinha que pega seu dinheiro pra você passar pela roleta.
Sabe o que me deixa feliz? Quando alguém se dispõe a conversar comigo, senta-se próximo, ou mesmo fica parado na roleta. Já ouvi muitas historias boas e casos tristes, mas o mais importante é que eu estou sempre la, disposto a ouvir o que você tem pra me falar. Mesmo quando estou triste não deixo de te escutar. Embora, às vezes você passe por mim sem me notar, sem notar que você é importante pra mim.
‘DIARIO DE AGENTE DE BORDO’
A
O N I B U S
S
U
N
T
O
PARAMETROS
PONTOS E OBSERVAÇÕES
Ônibus, um assunto normalmente fora do normal. Ônibus, quem discutiria algo assim, um assunto sem nexo nem anexo. Quem? Eu. Por quê? Nem eu sei.
Ha uma variável de coisas variáveis. Acontecimentos que marcam a historia e coisas que passam despercebidas. Há coisas banais que deveríamos prestar mais atenção, coisas simples, mas que fazem a diferença.
O ônibus é um antro publico um lugar por onde passam pessoas diferentes, com historias diferentes. Cada qual teve seu dia seja de trabalho ou lazer, seja um dia cansativo, ou um dia de prazer.
Mas o que importa é que cada individuo é único naquele lugar. Alguns vêm com um sorriso estampando no rosto, outros um leve esboço de cumprimento, há ainda os que vêm carrancudos e estressados. Alguns precisam de um pouco de atenção, outros precisam se sentar ao fundo do ônibus para refletir sobre algo que aconteceu em suas vidas.
De fato, há ali naquele local milhares de historias diferentes. Algumas que se contam por conta própria, outras para se descobrir com o tempo.